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28/02/2011

Crise no mundo árabe poderá favorecer o pré-sal

CRISE NO MUNDO ÁRABE PODERÁ FAVORECER O PRÉ-SAL

Aumento do preço internacional do petróleo melhora a competitividade do óleo encontrado em camadas mais profundas do mar. No entanto, se os conflitos se prolongarem, podem comprometer a já fragilizada economia da Zona do Euro

Valor mais alto do barril melhora o desempenho dos novos campos da Petrobras. Os consumidores brasileiros não devem ver aumento de preço nas bombas de combustível, mas não estão livres de sentir no bolso o aumento do petróleo no mercado externo. A estatal deve manter os repasses para o querosene de aviação, a nafta petroquímica e o óleo combustível.
Mais do que a inflação, o que preocupa os especialistas é a resposta da Europa à subida do barril. Se a situação no continente piorar, porém, o Brasil pode ser afetado por não ter controlado os gastos públicos nos últimos dois anos.

Egito pressiona preço do petróleo e favorece o pré-sal

Se os conflitos no norte da África e no Oriente Médio não durarem muito, uma leve subida do preço do barril beneficia novos campos da Petrobras. A longo prazo, porém, representam um risco para a economia mundial. O recrudescimento da crise no Egito contribui para tornar mais tenso o ambiente em todo o
Oriente Médio, mas apresenta baixo potencial de corrosão das expectativas econômicas do Brasil, pelo menos em curto prazo. Especialistas como o consultor Armando Guedes Coelho, ex-presidente da Petrobras, advertem para a piora do cenário econômico apenas se a crise egípcia evoluir e durar meses. Se isso ocorrer, projeta o consultor, o petróleo poderá alcançar
o patamar de US$ 130, e deteriorar as expectativas de recuperação das economias americana e europeia.

“Nesse caso, poderá haver contágio da economia brasileira, com a piora da crise europeia e nos Estados Unidos”, diz Coelho, que vivenciou as duas primeiras crises do petróleo, em 1973 e 1979, nas condições de diretor e presidente da Petrobras. “Por enquanto, no entanto, pode-se dizer até que as perspectivas são favoráveis, pois exportamos uma média de 500 mil
barris por dia de petróleo, um volume superior ao importado em óleo leve e derivados. Sem contar o pré-sal, que se torna mais atrativo quanto maior for o preço do barril no mercado internacional.”

Inflação

Ontem, o barril do tipo Brent, negociado na Bolsa de Londres, alcançou omaior patamar em 28 meses (US$ 103),mas à tarde recuou US$ 0,21, para US$ 102,03. A subida do preço aponta para pressão inflacionária, e afeta especialmente a já fragilizada economia da Zona do Euro.

Já o WTI, negociado na Bolsa de Nova York, recuou US$ 0,61 para US$ 90,25. Apesar da baixa — que interrompeu um ciclo de alta iniciado com os protestos, na semana passada, contra o governo de Hosni Mubarak, no Egito—, consultores como Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), preveem que os preços podem chegar a até US$ 150 em março,
se a crise persistir.

Apesar do impacto da conjuntura política no Oriente Médio, os preços, lembra Pires, também sofrem a influência de fatores estruturais, como a correlação mundial entre oferta e demanda de petróleo, e da especulação com contratos da commodity no mercado futuro. “A crise no Egito só antecipou uma alta de preço que era esperada para maio, como consequência tanto da especulação quanto do alto consumo de petróleo”, afirma Pires, que prevê muita volatilidade nos preços pelo menos até 2015.

Coelho explica que, do ponto de vista prático, o Canal de Suez, no litoral egípcio, escoa, em média, 1,085 milhão de barris de petróleo por dia, volume equivalente a menos de 1% do consumo mundial diário, de 85 milhões de barris. Como o volume é mínimo, afirma o consultor, o impacto de uma crise na região só será grande se o governo egípcio cair nas mãos de radicais islâmicos, a exemplo do ocorrido com o Irã, em 1979, com a deposição do xá Reza Pahlevi.

Sócia-diretora da consultoria Gás Energy, Sylvie D’Apote mantém otimismo mais moderado que Guedes, mas projeta impacto igualmente modesto sobre o Brasil. O contágio, pondera a consultora, se dará por meio da balança comercial, uma vez que o Brasil ainda importa petróleo e derivados — e não pela inflação.

“À medida que o Brasil ainda importa e exporta petróleo, o país, de alguma forma, será afetado pela conjuntura internacional. Mas talvez o impacto não seja tão grande como em outras crises”, afirma Sylvie, que projeta impacto inflacionário dentro do país apenas se a Petrobras repassar a variação dos preços do barril para os preços internos da gasolina e do óleo diesel.

Ricardo Rego Monteiro
Destaque - Tensão no Mundo Árabe